terça-feira, 30 de setembro de 2008

Diário de um Inferno Conjugal




Vítima descreve inferno conjugal em diário
Abusos começaram na gravidez e duraram quatro anos até a mãe a ter levado à APAV e a polícia ter feito os autos
2008-09-25
ALEXANDRA MARQUES
Após um ano de vida em comum, aos 24 anos casou com um homem que bebia, mas que não era violento. Tudo mudou com o nascimento do filho e é descrito no livro publicado esta semana: "Diário de um Inferno Conjugal".
Tem hoje 37 anos e diz ser feliz. Para trás ficaram quatro anos de uma relação conturbada com um marido alcoólico que a ofendia e lhe batia constantemente.
Durante os 12 meses em que viveram juntos e até o filho nascer, no início de 1996 (um ano depois do enlace), o parceiro já bebia, "mas não era agressivo, nem mostrava ser ciumento", diz. Consultava, aliás, uma psiquiatra por causa das dependências que tinha.
Explica a mudança de atitude do marido, talvez por julgar que tendo um filho dele, "eu lhe pertencia, já não ia fugir dele e podia fazer de mim o que quisesse".
A psiquiatra alegava que o álcool e os sucessivos desempregos do marido potenciavam a violência, desculpabilizando assim, considera, o comportamento abusivo do parceiro.
A técnica tinha-a aconselhado a engravidar porque ao ser pai, o parceiro tornar-se-ia mais responsável e menos dado à bebida. Não resultou. "A minha gravidez foi um pesadelo. Esteve quase sempre embriagado". Anos depois, a técnica dizia-lhe não ser obrigada a ter relações com o marido.
Quando as ofensas verbais e a violência psicológica já eram uma realidade, começou a escrever um diário para desabafar o que não contava a mais ninguém.
Deixara de ter contacto com as amigas de solteira e as saídas eram sempre para casa dos sogros ou de amigos destes: "Ficamos sem amigos e nem nos damos conta. Só estamos com os deles".
Ao contar à mãe o inferno em que vivia, ela levou-a à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) - onde lhe pediram para arranjar provas contra o agressor.
Passou a chamar a polícia sempre que havia desacatos dentro de casa. Muitas vezes pediu ajuda na escada do prédio, mas nenhuma vizinha lhe acudiu. Ao contrário dos agentes da PSP, da Amadora, que diz terem sido sempre muito prestáveis e protectores.
Contudo, a chamada da polícia acentuava a ira do parceiro. "Tinha de me fechar no quarto para chamar a polícia pelo telemóvel e só saia quando eles chegavam".
Só ao fim de quatro anos(até 2000) ganhou coragem para bater com a porta. Quando na APAV, lhe garantiram que ninguém lhe tiraria o filho, se deixasse o marido.
Depois do marido perceber que tinha sido denunciado, a situação ficou mais difícil. "Foi um pesadelo" que admite necessário para poder provar que era vítima de maus tratos conjugais.
Quando soube que o marido ia ter alta do hospital, saiu de casa e foi viver com a mãe: "Foi um alívio". Depois, a madrinha emprestou-lhe dinheiro para comprar uma casa. "As mulheres da minha família foram a minha rede de apoio", reconhece.
O divórcio saiu no início de 2002 e hoje diz não compreender porque passou por tudo aquilo. A ideia de escrever o livro surgiu-lhe a meio da noite em Março deste ano, "como um chamamento". "Achei que devia escrevê-lo para ajudar nem que seja apenas uma mulher a libertar-se", justifica.

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Comentários
4 Comentários:
mariacosta
25.09.200812:20
Portugal - Porto
Minhas queridas, Também eu me pergunto porquê, porquê tantas de nós acham que para sermos felizes temos que sofrer tanto? Tantas achamos que não somos dignas de respeito, de carinho e amor? Porquê? Sofrer agressões, insultos, tormentos, ciúmes infundados, vexames, etc, tudo em nome de um "chamado" amor? Sim porque amor não tem nada a ver com isto! Amor é respeito, amor é apoio de famíla, é carinho do agente da autoridade que sente vergonha do homem que faz isto, e sabe que não pode impedir totalmente. Histórias destas há-as aos milhares, na minha casa.., da casa de muitas mulheres em Portugal, milhões de mulheres no mundo sofrem amordaçadas.. A vós vizinhos, peço a vossa ajuda, o vosso olhar, o vosso telefonema para as autoridades.. Quando nos virem a ser agredidas, não voltem o rosto no sentido oposto, ajudem por favor!! O meu obrigada a todos os que intervieram e me defenderam e que se calhar mal agradeci por medo de mais represálias, OBRIGADA!! A Vós atormentadas digo que passa por ti acabar com isto, por ti, pelo teu filho, pela tua filha! Que sentirás e lhe dirás quando o namorado a agredir pela 1ª vez? - "O tempo tudo cura?" A mim bastou-me idealizar a minha Princesa nas mãos de um Animal como o pai dela!.. depois se não servia para ela, compreendi que também não devia servir para mim.. Não desistam, minhas queridas, mas vale não ser amada do que ser "amada" de certas formas.. Bem haja a as famílias que apoiam, a minha, a dela.. e todas as outras que mesmo não tendo laços de sangue se importam, nem que seja só um pouquinho.. Obrigada a todos, pela minha filhota e por mim! Não desistam minhas queridas, Um beijo desta irmã d'armas.. Maria



JORGEMIGUEL
25.09.200811:11
United Kingdom
Quando deixa de haver harmonia familiar e o desejo sincero de remover obstaculos entre o casal e ambos se entregam a decisoes de extra-conjugais, medicos, psiquiatras, amigos, quasi sempre pode suceder uma situacao semelhante. So faltou mesmo padre da freguesia... E agora, pergunto eu, que vai ser da crianca concebida para colmatar a brecha detectada. Vai continuar a ser o "rato de laboratorio" em que a conceberam...? Hoje, livre do pesadelo sera que nao tem alteracoes comportamentais derivadas dessa situacao? Quem se importa? A ideia de escrever um livro foi a meu ver uma boa ideia. Infelizmente, ele apenas vai servir para meia duzia de pessoas fazerem dele tese, apontarem como estudo, mas de facto o que valeu, foi a ajuda para arranjar uma casa e sair daquele inferno...de resto...e cootidiano da vida. Va la, vou dar alento a umas quantas senhoras...A MULHER QUE NAO TEM SORTE COM OS HOMENS, NAO SABE A SORTE QUE TEM...aproveitem!!! Jorge Miguel, Londres, 25 de Setembro de 2008



carloscostaribeiro
25.09.200809:21
Portugal - Porto
Mais um livro,entre tantos que são publicados,este trata assuntos sérios e contraditórios.Ficção e realidade,poderia ser o nome do livro.FICÇÃO,porque descreve situações dificeis de acontecer todas á mesma pessoa,tais como:insistência na aceitação da infelicidade,psiquiatra que desculpa o agressor,tecnica que aconselha o desaconselhavel,vizinhos que evitam o apoio á vitima,mais umas quantas situações de dificil compreensão como seja a intervenção sempre "simpatica" da Policia mas de resultados nulos,etc.,bem sei que posso estar a divagar,porque tudo isto infelizmente é REALIDADE,embora continuando a divagar,acho que é muita coincidência de factos no mesmo caso.De qualquer modo o seu conteudo é de louvar no minimo por o alertar de consciencias para a ajuda ao próximo.



hps
25.09.200801:04
Portugal
que todas as mulheres que sao vitimas ponham os olhos neste exemplo e sigam-no!!! so nao entendo uma coisa: como pode uma tecnica aconselhar alguem a engravidar quando se vive um drama derivado ao alcolismo? em que ê que ser pai altera o estado caotico que se esta a viver? o mais certo ê a pessoa piorar, uma vez que ser pai implica ser responsavel, ter responsabilidade e autonomia para cuidar de uma criança e tambem de si proprio! mas questoes a parte... parabens a esta mulher por ter superado todos estes traumas e ser feliz hoje em dia!!!!

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